quarta-feira, 9 de maio de 2012

«Santa Justa» - José Luiz Tavares

Ascensores, Lisboa tem 3;
- para qual deles remeterá o poema, o soneto, de José Luiz Tavares, poeta cabo-verdiano?;
- G. arrisca que sabe*

12.

Já não sobem varinas de ginga e canastra
neste elevador. Mas vai a gente em altiva
arribação, manso ronrom de roldana já gasta,
a astúcia das mãos mantém a atenção viva,


que sempre foi o desvelo pelo alheio sageza
que prescinde de anúncio. Confiável estafeta
da solidão, prossigo no encalço duma esbelteza
nórdica, inda um aviso em forma de tabuleta


rezasse: “cuidado, a beleza mata.” Mas eu
durmo nos telhados da dor, com uma
cidade em gangrena, pois já está salvo


o que com  a própria língua sustém o céu.
Não dói muito a ausência de relva ou caruma
quando a urbe inteira se estende assim em alvo.


José Luiz Tavares, “Lisbon Blues”, in Relâmpago, n.º 20, 2007


*... errou; é o de Santa Justa; quer na edição brasileira [...]. quer finalmente na portuguesa, da Abysmo (com ilustrações de Pierre Pratt) vem identificado...(p. 99, 11.º na secção «Último Cabo»

terça-feira, 8 de maio de 2012

Largo do Carmo - Cardoso Pires

Da série «Lugares bem lidos» do DN

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Largo do Carmo

(contém o recorte lido no vídeo)

[...]É possível definir Lisboa como um símbolo. Como a Praga de Kafka, como a Dublin de Joyce ou a Buenas Aires de Borges. Sim, é possível. Mas, mais do que as cidades, é sempre um bairro ou um lugar que caracterizam essa definição e a fidelidade tantas vezes inconsciente que lhes dedicamos. O Chiado, neste caso. A sua geografia cultural, o seu resplendor diurno, a paz provinciana das suas ruas à noite, tanta coisa, tanta coisa.
[...]
E se desço alguns metros e me vejo no Largo do Carmo, com o chafariz ao centro salpicado de passarinhos, então alguma coisa muito vertical me suspende por inteiro porque foi nesse lugar que vivi o momento mais comovedor da minha vida de cidadão. Largo do Carmo do ano de 74, quem o pode esquecer? Era primavera e a capital proclamava a Revolução dos Cravos diante dos donos da Ditadura encurralados num quartel.
Volto lá vezes e vezes depois do incêndio. As chamas não chegaram até ali, pombas minuciosas cobrem o largo e ouve-se água a correr. Chiado, a paz depois do tumulto. Que feliz um lugar como este que, apesar de sismos e de chamas, teve a fortuna de ser o palco da hora que libertou o país.
Olho e recordo, mas há uma parte dele que está desfigurado para sempre. E isso dói, não esquece. Quando aquelas cicatrizes se tiverem fechado como será este rosto de mim mesmo?

José Cardoso Pires. Lisboa Livro de Bordo - vozes, olhares, memorações. 4.ª ed., Lisboa, D. Quixote, 1998, (1.ª: 1997), pp. 74-75

Largo de Camões - Manuel Alegre

do novo livro de Manuel Alegre: - Nada está escrito

LARGO DE CAMÕES

E sempre que alguém volta és tu ainda
vens de Ceuta e da seta e da Índia e Macau
de lira enrouquecida e pala preta
és tu ainda e o nosso nome é Jau
corta-te o Paço a tença e o frade o verso
a pátria agradecida te deserda
vais pelas ruas de Lisboa de muletas
e os pombos enchem-te de merda
no Largo do teu nome no país dos poetas.

Manuel Alegre, Nada está escrito. Lisboa, D. Quixote, 2012 (Abril), p, 76

[múltiplos Ecos: do próprio L. de C., de Sophia, de Sena...]

Rua de São Paulo - Manuel Alegre

- entre os 9 - 10 e os 23 - 24, aí viveu G., no 3.º andar
( - de 4 + «Águas - Furtadas» - ) do Prédio Pombalino «colado» ao Ascensor da Bica (outras histórias)

do novo livro de Manuel Alegre: - Nada está escrito

RUA DE SÃO PAULO

Em certas ruas de Lisboa cheira a Índia.
Na Rua de São Paulo por exemplo
a certas horas pode navegar-se
pela rua como em nenhum mar. Então
cheira a pimenta e a canela. E ao cheiro dela

Lisboa ainda se despovoa mesmo que
dela apenas se parta não partindo
ou caminhando pela Rua de São Paulo
até chegar àquela estrofe onde se avista
a Índia que só há dentro de nós.

Manuel Alegre, Nada está escrito. Lisboa, D. Quixote, 2012 (Abril), p, 70

Lisboemas, porque...

G. só esteve «exilado uma vez», na margem Sul - no Lisnavetão - mas foi uma (das) Vidas - durante cerca de 18 anos - de Junho de 79 a Agosto de 96

Quando, em setembro de 96, veio para a Penha, repetia a General Z, provocando-a, que
«regressava a Casa, finalmente, nada mais era preciso para ser [...]»

Confirmou-se. Assim tem sido.

(mais uma divisão na Casa - esta «anti-apaga-apaga» - dedicada à Princesa Lisboa)

Aleluia