um gato de lisboa
gato manso das velhotas
de alfama e da madragoa
dormitas sem cambalhotas
e nunca leste o pessoa.
quando ronronas não notas
tanto espreitar da patroa
nem quer's saber das gaivotas
voando no céu à toa.
dos peixes só vês as rotas
pela espinha ou quando ecoa
o pregão com cheiro às lotas
onde os despeja a canoa.
és livre e nisso te esgotas
sem remorso que te doa,
e ao peitoril não desbotas
e esta luz não te magoa,
nem vês corvos nem gaivotas
empoleirados na proa,
mas de corvos e gaivotas
faz-se o brasão de lisboa.
Vasco Graça Moura, Poesia 2001 - 2005, Lisboa, Círculo de Leitores
gato manso das velhotas
de alfama e da madragoa
dormitas sem cambalhotas
e nunca leste o pessoa.
quando ronronas não notas
tanto espreitar da patroa
nem quer's saber das gaivotas
voando no céu à toa.
dos peixes só vês as rotas
pela espinha ou quando ecoa
o pregão com cheiro às lotas
onde os despeja a canoa.
és livre e nisso te esgotas
sem remorso que te doa,
e ao peitoril não desbotas
e esta luz não te magoa,
nem vês corvos nem gaivotas
empoleirados na proa,
mas de corvos e gaivotas
faz-se o brasão de lisboa.
Vasco Graça Moura, Poesia 2001 - 2005, Lisboa, Círculo de Leitores