- no Bloco da manhã, L., o Príncipe, não o JOG., dizia, hoje, pelas 9 e 30, após «várias ajudas», «hoje não estou inspirado...», face ao excerto - a cores, tal como lhe foi proposto:
[…] Acabaram as férias de Lídia, tudo voltou ao que dantes
era, passará a vir no seu dia de folga, […] Numa destas noites Fernando Pessoa
bateu-lhe à porta, não aparece sempre que é preciso, mas estava a ser preciso
quando aparece, a alguém, Grande
ausência, julguei que nunca mais o tornaria a ver, isto disse-lhe Ricardo Reis, Tenho saído pouco, perco-me facilmente, como uma velhinha
desmemoriada, ainda o que me salva é conservar o tino da estátua do Camões, a
partir daí consigo orientar-me, Oxalá não
venham a tirá-la, com a febre que deu agora em quem decide dessas coisas, basta
ver o que está a acontecer na Avenida da Liberdade, uma completa razia,
[…] A mim nunca me levantarão estátuas, só se não
tiverem vergonha, eu não sou homem para estátuas, Estou
de acordo consigo, não deve haver nada mais triste que ter uma estátua no seu
destino, Façam-nas a militares e
políticos, eles gostam, nós somos apenas homens de palavras, e as palavras não
podem ser postas em bronze ou pedra, são só palavras, e basta, […] Olhe que até há quem exija a retirada do Chiado,
Também o Chiado, que mal lhes fez e Chiado, Que foi chocarreiro, desbocado, nada próprio do
lugar elegante onde o puseram, Pelo
contrário, o Chiado não podia estar em melhor sítio, não é possível imaginar um
Camões sem um Chiado, estão muito bem assim, ainda por cima viveram no mesmo
século, se houver alguma coisa a corrigir é a posição em que puseram o frade,
devia estar virado para o épico, com a mão estendida, não como quem pede, mas
como quem oferece e dá, Camões não tem
nada a receber de Chiado, Diga antes que
não estando Camões vivo, não lho podemos perguntar, você nem imagina as coisas
de que Camões precisaria. Ricardo Reis foi à cozinha aquecer um café,
voltou ao escritório, foi sentar-se diante de Fernando Pessoa, […]Não consigo habituar-me à ideia de que você não
existe, Olhe que passaram sete meses,
quanto basta para começar uma vida, mas disso sabe você mais do que eu, é
médico, Há alguma intenção reservada no que
acabou de dizer, Que intenção reservada
poderia eu ter, Não sei,
Você está muito susceptível hoje, Talvez seja por causa deste tirar e pôr de
estátuas, desta evidência da precariedade dos afectos, […]
«O ano da morte de Ricardo Reis», pp.
425 – 427