- Variação de Tema(s) de Cesário (+ citações de O'Neill e Cardoso Pires, por ex.o), para «O tempo de aqui-agora», em Crónica de A. C. Leonardo, no Íps
RECORTE(s):
[...] Chegada ao terceiro parágrafo, torna-se irresistível citar Bernardo Soares: “O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão”.
Atrás de mim está agora o rio. Atravesso a rua – suja –, ziguezagueio entre tuk-tuks – alguns enfeitados por grinaldas de flores de plástico de cair bizarramente havaiano –, desvio-me de um casal asiático, obedeço à geometria do ângulo que delimita o passeio largo e ainda mal-acostumada à nova carburação urbana, passada a esquina, esbarro no Fantastic world of the Portuguese Sardine.
A calçada encardida, o lixo que esvoaça ao vento. Obras! Pó! Arquitectura sem história e sem alma a crescer em crateras onde antes viviam alfacinhas, uns mortos, outros empurrados para os subúrbios. Entre os prédios, ajardinados desenhados à esquadria – cartesiana, naturalmente – nos quais as árvores, quando as há, não dão sombra [...]
Regresso ao monte. Confirmo que a combinação de tempo e espaço é o luxo sem preço dos nossos dias. Sorrio ao lembrar-me da frase do irreverente arquitecto Manuel Vicente, “O campo é o sítio onde eu páro para mijar entre duas cidades”, e, por instantes, até a inexistência de jornais e camionetas no concelho perdoo aos da Câmara.
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