quarta-feira, 1 de maio de 2013

S. Paulo (as «línguas» que eram pedras)

[manhã cedo, lá foi T. - Graça, S. Luzia, Sé - pela primeira vez, alcançou a [que virá a ser a Nova] «Ribeira das Naus»
 - «internou-se» mais na sua Geografia de I., e o que viu, à volta da Praça de S. Paulo, deixou-o triste]
[...]
      Por toda a parte se queimava alecrim para afastar a epidemia, nas ruas, nas entradas das casas, principalmente nas casas dos doentes, ficava o ar azulado de fumo, e cheiroso, nem parecia a fétida cidade dos dias saudáveis. Havia grande procura de línguas de S. Paulo, que são pedras com o feitio de línguas de pássaro, achadas nas praias que de S. Paulo vão até Santos, será por santidade própria dos lugares ou por santificação que os nomes lhes dêem, o que toda a gente sabe é que tais pedras [...] são de soberana virtude contra as febres malignas justamente, porque, sendo feitas de subtilíssimo pó, podem mitigar o demasiado calor, aliviar as areias, e algumas vezes provocar suor.
[...]

José Saramago, Memorial do Convento, 51.ª ed., pp. 244, 245

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