quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lisboa («Nocturno de») - Eugénio

NOCTURNO DE LISBOA

Pela noite adiante, com a morte na algibeira,
cada homem procura um rio para dormir,
e com os pés na lua ou num grão de areia
enrola-se no sono que lhe quer fugir.

Cada sonho morre às mãos doutro sonho.
Dez reis de amor foram gastos a esperar.
O céu que nos promete um anjo bêbado
é um colchão sujo num quinto andar.

Eugénio de Andrade (1923-2005), de Os amantes sem dinheiro (1950)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.