sexta-feira, 12 de junho de 2020

Lisboa, em «pausa turística» - António Guerreiro

- «As cidades inviáveis» (por Engano ou «por Calvino», F. escreveu «Invisíveis»...), «Crónica-ensaio» de António Guerreiro, hoje, na p. 30 do «Ípsilon» ou AQUI

RECORTE:
[...] Vaguear e redescobrir esta cidade de que tínhamos sido expropriados pode proporcionar momentos jubilantes de uma fruição que não é apenas estética (pelo contrário, até nos faz desprezar toda a estetização). De repente, a cidade já não é um espectáculo indiscreto, exibicionista, quase obsceno, mas projecta-se sobre um fundo que não é imediatamente visível: o tempo, a história, a memória. Em suma; tudo aquilo que foi branqueado como se branqueia o dinheiro sujo. Mas este prazer reconquistado, sabemos muito bem, é egoísta e cínico: eleva-se sobre uma tragédia inaudita que se abateu sobre muita gente: a massa de empregados precários, de agentes de uma economia informal, de pequenos proprietários, de promotores privados de alojamento local que muitas vezes passaram a viver fora da cidade ou em casa de família para retirarem rendimento vital das suas próprias casas. É bem conhecida esta lei implacável: quanto mais a cidade se enche de turistas, mais se esvazia de habitantes. [...]

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