domingo, 14 de fevereiro de 2021

«Rua dos Fanqueiros» («Manequins da...»)

Crónica de hoje de Fernando Alves, no «DN»;
RECORTES:

«Um velho amigo que já cá não anda dizia dos mais entufados interlocutores, quando punham o ar de quem engolira um garfo, que pareciam "manequins da rua dos Fanqueiros".
Nesta sexta-feira, ao ler que a proprietária de uma confeitaria da Corunha pediu, numa loja de roupas da vizinhança, manequins emprestados e os sentou à mesa, os vultos reclinados sobre os pratos, as luzes acesas e música nas colunas, chamando a atenção para os danos colaterais do confinamento, desci a Rua dos Fanqueiros a ver as montras. E que vi eu?
[...]
Dante Milano, tradutor de Baudelaire e amigo de Drummond e de Manuel Bandeira, fez um conto intitulado O Manequim, inspirado no caso de um tal Jaime Ovalle, seu companheiro de estúrdia nas noites do Rio. Quando saía do trabalho, o dito Ovalle parava longas horas diante de uma certa montra e ficava a contemplar um manequim pelo qual se apaixonou.
Penso num intrigante poema de João Cabral de Melo Neto: "Tenho no meu quarto manequins corcundas/ Onde me reproduzo/ E me contemplo em silêncio." E é como se visse Ovalle e o manequim olhando-se, perdidos, por detrás das máscaras. [...]

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.