quarta-feira, 9 de maio de 2012

«Santa Justa» - José Luiz Tavares

Ascensores, Lisboa tem 3;
- para qual deles remeterá o poema, o soneto, de José Luiz Tavares, poeta cabo-verdiano?;
- G. arrisca que sabe*

12.

Já não sobem varinas de ginga e canastra
neste elevador. Mas vai a gente em altiva
arribação, manso ronrom de roldana já gasta,
a astúcia das mãos mantém a atenção viva,


que sempre foi o desvelo pelo alheio sageza
que prescinde de anúncio. Confiável estafeta
da solidão, prossigo no encalço duma esbelteza
nórdica, inda um aviso em forma de tabuleta


rezasse: “cuidado, a beleza mata.” Mas eu
durmo nos telhados da dor, com uma
cidade em gangrena, pois já está salvo


o que com  a própria língua sustém o céu.
Não dói muito a ausência de relva ou caruma
quando a urbe inteira se estende assim em alvo.


José Luiz Tavares, “Lisbon Blues”, in Relâmpago, n.º 20, 2007


*... errou; é o de Santa Justa; quer na edição brasileira [...]. quer finalmente na portuguesa, da Abysmo (com ilustrações de Pierre Pratt) vem identificado...(p. 99, 11.º na secção «Último Cabo»

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