sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Lisboa de Cesário e de Sophia


CESÁRIO VERDE

Quis dizer o mais claro e o mais corrente
Em fala chã e em lúcida esquadria
Ser e dizer na justa luz do dia
Falar claro falar limpo falar rente


 Porém nas roucas ruas da cidade
A nítida pupila se alucina
Cães se miram no vidro de retina
E ele vai naufragando como um barco


 Amou vinhas e searas e campinas
Horizontes honestos e lavados
Mas bebeu a cidade a longos tragos
Deambulou por praças por esquinas


Fugiu da peste e da melancolia
Livre se quis e não servo dos fados
Diurno se quis porém a luzidia
Noite assombrou os olhos dilatados


 Reflectindo o tremor da luz nas margens
Entre ruelas vê-se ao fundo o rio
Ele o viu com seus olhos de navio
Atentos à surpresa das imagens

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Ilhas, 1990

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