domingo, 12 de março de 2017

«RUA DA ROSA: O POMBO» - F. A. P.

[J. foi à estante «Nobre», buscar A Musa Irregular, para (re)verificação de «As Balas»...; e estava este outro marcado com «p-it», de outra «ocasião»...; qual, não se lembra, nem porquê, claro ...]

RUA DA ROSA, LISBOA: O POMBO

Se o galo gala o pombo pomba? este pombava
ao sol das três da tarde lisboeta num passeio da Rua da Rosa
senhor de si não digo nem arrogante mas com alguns 
                                                       direitos v. g. do apetite
pombava enquanto carros subiam em segunda aí está cauteloso
o peito inflado as penas do rabo num leque amorável sendo
nele tudo isto a «a procura de Deus derramado na urbe» 
                     a vinte e dois anos e  meio do fim do mundo
ó futurólogos que não me largais

preciso para o voyeur: pombava e dançava e nos intervalos
céleres da dança pombava ainda apesar de tudo obsequioso
com a fêmea não fosse ela sôbolos pneus que rodam
rua acima ficar-se como a amiga de Ignacio Morel (in Ramón J. Sender)

igual a mim quando pombo ia pombando este pois que se trata
de a buscar sempre mesmo repetida
de uma geração a outra aquilo que é soberbo o amor a novidade 


Fernando Assis Pacheco, Memórias do Contencioso, 1980, transcrito da p. 117 de A Musa Irregular, 1991

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