quinta-feira, 30 de abril de 2020

Rua Gomes Freire

- Recortes do excerto final de crónica de Ferreira Fernandes, intitulada «Lisboa nunca mais te deixo sem mim»:

      [...] Mário Soares, nos seus últimos anos, sempre que saía de casa pedia ao motorista para passar pela rua Gomes Freire. A rua leva ao Campo de Santana mas não o merece, é incaracterística. [...] Mas o velho Soares não era ao Campo de Santana que rumava, era mesmo à rua Gomes Freire.
    O motorista abrandava pelos caixotes com marquises, prédios feios da década de 1960, mas só no muro alto do hospital Miguel Bombarda, Soares, pela janela do carro, espreitava para o que não via. Ali havia uma casa, onde ele foi Gigi, o menino de sua mãe. A volta do carro era um passeio íntimo, a madalena de Proust, o trenó do Citizen Kane. [...]  [sublinhados acrescentados]

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