sábado, 2 de maio de 2020

Rua Morais Soares, por Tolentino Mendonça

- as recentes «operações sanitárias» em pensões que agora têm o nome global de «Hostel» estarão «na base» desta crónica de Tolentino Mendonça - AQUI, pelo menos para os dois parágrafos iniciais;

Recorta-se o 3.º parágrafo, com acrescento de sublinhados:

[...] Parece que este finisterra é apenas um compasso de espera feito de vidas precárias, de pensões baratas e sobrelotadas, de população flutuante, de comércio desembaraçado, em grande parte anónimo e informal. E nem é difícil dar-se conta daquilo que paira no ar: uma espécie de expatriamento que é mais fundo do que ter simplesmente deixado uma pátria; uma condição dialetal, que é nunca mais voltar a falar com segurança, e por inteiro, uma língua: só um estranho meio dialeto, só umas quantas palavras; ou uma inexorável solidão humana que se espalha, tornada o cheiro de toda a pele. Contudo, é um erro pensar que esta Morais Soares é um sítio sem história. Pelo contrário: como poucos, ele devolve-nos com brutalidade à história; somos aqui atirados para o coração convulso da nossa época; e podemos lê-la não na ideologia, não nas idealizações, mas na carnalidade da vida. [...]

José Tolentino Mendonça, «Rua Morais Soares», «Expresso», 01 - 05 - 2020, Revista “E”, p. 90

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