- [mais um poema, de obra recente, possível de ser incluído na Colecção Cesárias XXI...]
ATÉ SANTOS O VELHO
Vou descendo a Rua de São Marçal
mirando a solidão, ouvindo os passos dados
e os chilreios, longe, atrás de muros de palácios.
Só ao cruzar a Praça das Flores me chega o burburinho
dos muitos cafés, dos restaurantes, das esplanadas.
Não paro, continuo a descer e os prédios empobrecem,
alguns bêbados encolhem-se nas soleiras, agora a Rua
da Cruz dos Poiais leva-me até ao campo do exílio precoce.
Cruzo a linha do eléctrico, a perceber cada vez menos
o porquê dessa minha levada, menino e moço, para aqui,
onde vivi de bolos e angústia em forma de piano.
Por estes becos despovoados, à espera de turistas,
mirando a solidão, ouvindo os passos dados
e os chilreios, longe, atrás de muros de palácios.
Só ao cruzar a Praça das Flores me chega o burburinho
dos muitos cafés, dos restaurantes, das esplanadas.
Não paro, continuo a descer e os prédios empobrecem,
alguns bêbados encolhem-se nas soleiras, agora a Rua
da Cruz dos Poiais leva-me até ao campo do exílio precoce.
Cruzo a linha do eléctrico, a perceber cada vez menos
o porquê dessa minha levada, menino e moço, para aqui,
onde vivi de bolos e angústia em forma de piano.
Por estes becos despovoados, à espera de turistas,
terei feito recados, idas e voltas à mercearia,
em busca de figos secos (pretos, num cartuxo de papel pardo),
maços de cigarros para o avô, ramos de louro ou salsa.
Se me chegasse agora algum cheiro a alho frito,
talvez chorasse e percebesse e sarasse, enfim,
mas já ninguém faz o jantar nestes rés-do-chão.
01/11/2020
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